Influenciadoras que humilharam crianças negras são indiciadas por racismo
O cenário das redes sociais tem sido palco de inúmeros debates acerca dos limites do humor e das ações tidas como brincadeiras. A fronteira sutil entre a diversão e a ofensa tem sido ultrapassada em diversas ocasiões. Isso ficou bastante evidente recentemente, quando as influenciadoras digitais Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves foram acusadas de atitudes racistas em um vídeo publicado no Instagram.
No referido vídeo, as duas teriam presenteado duas crianças negras com um macaco de brinquedo e uma banana. A situação levou Fayda Belo, especialista em direito antidiscriminatório, a denunciar o caso quanto ao que ela classificou como “racismo recreativo”, ou seja, a prática de discriminação contra pessoas negras com intuito de diversão.
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O que é o racismo recreativo?
O “racismo recreativo” é um termo usado para descrever atitudes que desumanizam e caracterizam ofensivamente pessoas negras sob a falsa capa de humor ou brincadeira. Essa forma de preconceito é especialmente perversa, pois esconde a discriminação sob o disfarce do entretenimento, minimizando o seu impacto nocivo e normalizando comportamentos que são indiscutivelmente racistas.
Fayda, ao comentar o ocorrido nas redes sociais, questionou: ”Vocês conseguem dimensionar o nível de monstruosidade que essas duas ”desinfulenciadoras” tiveram ao dar um macaco e uma banana para duas crianças e ainda postar nas redes sociais para os seus mais de 13 milhões de seguidores?”. A especialista ainda enfatizou a “animalização” das crianças por meio do “racismo recreativo”.
A repercussão e o pedido de desculpas
Após a acusação e a repercussão do caso, Kérollen e Nancy, que são mãe e filha e possuem mais de um milhão de seguidores no Instagram, retiraram o vídeo do ar e divulgaram uma nota de retratação. Neste comunicado, disseram repudiar qualquer tipo de discriminação racial, garantindo que o vídeo ”não tinha intenção de fazer qualquer referência a temáticas raciais ou a discriminações de minorias”.
Contudo, a questão que o caso coloca é: o pedido de desculpas é suficiente? Ações prejudiciais, mesmo que alegadas como sem intuito discriminatório ou pejorativo, não podem ser desconsideradas simplesmente por causa de um pedido de desculpas. Há um entendimento crescente da necessidade de mais consciência e menos insensibilidade no ambiente das redes sociais, onde ações têm impacto e repercutem rapidamente.