Depoimento de Mauro Cid semeia confusão na estratégia de defesa de Bolsonaro
O ex-tenente-coronel Mauro Cid, peça chave no caso das joias recebidas por Jair Bolsonaro e Michele Bolsonaro da Arábia Saudita, colocou o ex-casal presidencial diante de um cenário incerto.
Optar pela conhecida Lei de Murici, que sugere cada um cuidar de si, permitiu a Cid ser pioneiro em quebrar o silêncio em torno do ex-presidente da República, afetando drasticamente a situação legal de Bolsonaro e demais envolvidos.
A linha de defesa do ex-ajudante de ordens, tomada por seu advogado Cezar Bitencourt, parte de um ponto bem simples: Cid estava apenas seguindo ordens diretas do presidente da República.
Nesse contexto, cabe lembrar que cuidou da questão do Rolex cravejado com brilhantes e outros presentes valiosos vindos da Arábia Saudita, cuja venda e recompra se tornaram o centro da questão.
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Quão longe irá a lei de Murici?
Os novos desdobramentos desse caso, conforme revelado nas 10 horas de depoimento de Mauro Cid à Polícia Federal, desnortearam a defesa de Bolsonaro e da ex-primeira-dama. A defesa, até então, estava embasada numa única versão dos fatos. Agora, com Cid no jogo, o panorama começa a mudar.
Vale ressaltar que o ex-tenente-coronel é apontado como potencial autor de uma delação premiada na CPMI dos Atos Golpistas, o que poderia complicar ainda mais a situação para o lado dos Bolsonaro.
Quais as perspectivas jurídicas?
Essa decisão da defesa de Mauro Cid, ao mesmo tempo que abre caminho para uma possível punição ao ex-presidente, também levanta questões jurídicas.
Como por exemplo, que tipo de repercussões um acordo de delação premiada poderia ter nesse contexto inédito? E como isso impacta as investigações comandadas por Alexandre de Moraes, ministro do STF.
Existe algum precedente?
A história da Lei de Murici tem origem no final do século XIX, durante a miserável terceira campanha de Canudos, um dos maiores desastres militares da história brasileira. Naquela época, ao perceber a derrota iminente, o coronel Pedro Tamarindo ordenou a retirada das tropas e proferiu a agora famosa frase: “Em tempo de Murici, cada um cuida de si”.
O cenário do século XIX, com os militares cercados e sob a pressão dos sertanejos de Antônio Conselheiro, ecoa muito, curiosamente, na situação atual que envolve o ex-presidente Bolsonaro.
Em meio a tanta história e drama, fica a questão: qual será o desfecho de um escândalo envolvendo joias, políticos de alto escalão e a emblemática Lei de Murici?