João, o homem que viveu quase quatro décadas como escravo, marcado por sofrimento
João do Brejo, como é chamado, foi encontrado em situação análoga à escravidão em uma fazenda de café em Minas Gerais. Veja a história.
No último domingo (5), o programa Fantástico exibiu uma reportagem sobre um homem que viveu sem identidade e foi escravizado por quase quatro décadas.
Conhecido como João do Brejo, pouco se sabe sobre sua história antes de ter sido resgatado em janeiro deste ano, em condições análogas à escravidão na fazenda de café Boa Vista, localizada em Bueno Brandão, Minas Gerais.
O caso foi descoberto após João ter sido levado a um hospital com suspeita de pneumonia, onde foi constatado que ele não possuía nenhum documento.
A partir daí, a Assistência Social do município foi informada e fez a denúncia ao Ministério do Trabalho e Emprego, que organizou uma operação de resgate.
De acordo com os auditores-fiscais que participaram da operação, João vivia em uma casa sem qualquer condição de dignidade humana.
Ele dormia em uma espuma suja e encardida, não havia geladeira, televisão ou rádio, e o único dinheiro que possuía era um punhado de notas antigas do Brasil.
História de João
Segundo o relato do empregador às autoridades, João chegou à fazenda em 1984, perdido e procurando por uma oportunidade de trabalho.
Durante os 39 anos em que ficou na propriedade, ele trabalhou sem registro e em condições degradantes, sem acesso a direitos básicos.
De acordo com o médico Sérgio Ribeiro Goulart, que o atendeu, João tem diabetes e é hipertenso. Além disso, ele não fazia uso dos remédios que deveria tomar.
A história de João do Brejo é extremamente triste e revela a existência de situações de trabalho escravo ainda em pleno século XXI.
É essencial que as autoridades competentes investiguem o caso e garantam que os responsáveis sejam punidos de acordo com a lei.
Resquícios da escravidão
Hoje, João vive em um lar de idosos, mas a conversa com ele é difícil.
Quando perguntado sobre o que gosta de fazer, sua resposta é sempre a mesma: “trabalhar”.
Repórter: “Tem algo que dê prazer para o senhor?”
João: “Prazer para mim é roçar, levanta cedo, já vai no canto, já pega uma ferramenta de segunda a sábado…”
Repórter: “O senhor me dá a impressão de uma vida sofrida. O senhor sofreu?”
João: “Sofri e sofri muito, eu vou falar para vocês”.
O antigo empregador, David Aparecido de Oliveira, não respondeu aos pedidos de entrevista da equipe do Fantástico.
No entanto, há boas notícias para João, que recebeu suas verbas rescisórias e seus documentos, como certidão de nascimento, identidade, CPF e cartão do SUS.
Ele conta que nunca gostou de ser conhecido como João do Brejo e se apresenta como João Ribeiro.
Sua história serve como um alerta para a necessidade de combater a escravidão e garantir a dignidade e os direitos básicos de todos os trabalhadores.