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Quantitativo de negros nos cursos de engenharia quadruplica em 10 anos

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A quantidade de estudantes que ingressaram em engenharia, que são autodeclarados pretos e pardos, quadruplicou na última década. Havia 25,2 mil negros entrando no curso no ano de 2010. Já no ano passado, foram 109,8 mil.

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Os dados são do pesquisador Gerrio Barbosa, que integra o Núcleo de Estudos Raciais do Insper a partir do Censo da Educação Superior. A alta se deve graças à Lei de Cotas, que completou uma década este ano.

Entretanto, os números são pequenos quando comparados aos brancos que ingressam no mesmo curso. Estes correspondem a 148 mil dos calouros de engenharia em 2021, com um percentual de conclusão 33% maior.

Aos que se autodeclararam brancos ainda eram maioria no ano de 2010, correspondendo a 50,8 mil ingressantes dos cursos de engenharia.

Em pouco mais de uma década, o número de matriculados negros na área, uma das mais concorridas das universidades públicas, saltou de 65,5 mil para 349,5 mil, aumentando de forma mais acelerada, sobretudo a partir de 2015. Já o número de jovens negros que concluíram o curso aumentou de 5 mil para 46,4 mil.

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Além da engenharia: negros em universidades

A fim de reverter esse cenário, as universidades necessitam investir em mais políticas de permanência e inclusão. O cenário ainda é delicado para estudantes como Murilo Noronha.

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Ele, que hoje tem 20 anos, começou a pensar em ingressar em engenharia aos 15. O sonho se deu quando Noronha participou de uma feira de profissões na escola pública em que estudou.

O que tanto almejava se tornou realidade ao entrar para a USP em 2021. Ele conta: “Estudei em escola pública a vida inteira e agora estou conhecendo a realidade de quem tenta se adaptar a uma faculdade ainda com uma estrutura bem elitista.”

Após vivenciar as diversas faces da elite brasileira, o jovem menciona a realidade do número de pessoas negras em locais como a USP: “Há outras pessoas pretas na minha sala, mas tem aula em que ainda olho ao redor e sou a única pessoa negra.”

Murilo colhe frutos, como seu recente convite para integrar o grêmio da Escola Politécnica. Ele avalia que, mais do que democratizar o ingresso, deve-se pensar em formas de manter o aluno na universidade.

A editora júnior da Saber Educação, Juliana Bomjardim, abordou que os dados exibem um grande salto na história, entretanto, ainda há uma questão delicada: “Mesmo após salto, estudantes negros continuam sendo minoria nas salas.”

Desejo de mudança para que negros e brancos possam estar no mesmo lugar

Murilo fala também sobre oportunidades futuras para pretos e pardos: “Vejo que a tendência é aumentar a diversidade na engenharia nos próximos anos. Não imagino que já irei encontrar um ambiente diverso logo após me formar.”

Ele contou sobre sua expectativa de ver como tendência muitas oportunidades para negros, visto que essa já é uma realidade para os brancos. Noronha integra também o Coletivo Poli Negra, um grupo criado no ano de 2016.

Seu objetivo é debater pautas raciais, lutar pela pauta de permanência estudantil, bem como promover acolhimento para estudantes negros. Casos como os do jovem devem se tornar cada vez mais comuns.

Michael França, pesquisador do Insper, ressalta a visão antiquada de refutar as qualificações de pessoas negras: “As empresas insistem que falta mão de obra negra qualificada, mas é uma desculpa.”

Ele explica que precisamos evoluir: “A gente percebe que a composição de negros em engenharia melhorou ao longo tempo, mas não é igual a de outros cursos, precisa gerar mais mão de obra negra em engenharia ou medicina.”

Para tal evolução, o pesquisador ressalta que universidades precisam investir em políticas para manter os alunos negros estudando.

Embora vejamos o aumento de estudantes que se matriculam nessas instituições, ainda é excessivo o mecanismo silencioso de exclusão por renda.

Em sua opinião, Michael aborda que vestibulares ainda seguem sendo um filtro socioeconômico e racial. Ele fala que as cotas entram em um meio para tornar essa disputa mais justa. Entretanto, a rotina universitária não pode se manter como um mecanismo de exclusão.

“Quando traçamos a tendência de negros no ensino superior, não podemos ignorar o fato de que as bolsas de estudos e pesquisas foram congeladas e muitos não conseguem mais se manter em grandes universidades do país, diz ele.”

Mercado e universidade sendo inclusivos para os negros

Embora o percentual de concluintes negros seja 33% menor que o de brancos, houve evolução. O quantitativo de negros que conseguiram um diploma de engenharia aumentou nove vezes no período.

A USP, bem como outras instituições de referência ao redor do país, recebe seus estudantes de diversas formas. Ela aderiu ao sistema de cotas raciais, bem como os de alunos oriundos de instituições públicas.

Contudo uma queda alta se deu ao perceber que o número de estudantes, que não declaravam raça ou cor no último Censo, caiu mais de 60%. Esse cenário se deu mesmo com a consolidação do sistema de cotas nas universidades públicas.

Completa dez anos de existência a Lei de Cotas que proporciona e oportuniza estudantes a terem um acesso democrático ao ensino público. A USP já atua com as cotas há quatro anos.

A estudante de engenharia civil, Larissa Rodrigues, foi aprovada na Poli antes do sistema de cotas. Ela explica que decidiu ser engenheira aos 11. Apesar de seus familiares serem de outras áreas, não deixaram ela desistir.

Seu pai era professor de matemática, atuando na rede pública de ensino. Já seu avô era pedreiro: “Não tinha pressão da família, mas sempre me estimularam muito.”

Hoje, com 25 anos, ela está se formando no curso e declara que viu a mudança nos cursos de universidades de perto. A jovem também recorda o ambiente universitário em que viveu.

Ela fala que o local era muito mais opressor antes das cotas, assim, necessita-se de mudanças: “A principal demanda agora é que a universidade repense a estrutura acadêmica.”

Portanto, Larissa vinha sentindo uma solidão ao ser negra na Poli. A futura engenheira engenheira sobre o cuidado cauteloso com a mente: “Também é preciso pensar na saúde mental desses estudantes negros.”

Ela pontua: “A pressão é grande para todos, mas a gente se sente pressionado a ser uma história de superação constante”. Hoje, ela dedica seu trabalho de conclusão a investigar o novo perfil dos alunos da faculdade.

Rodrigues conseguiu seu primeiro estágio após ter sido encontrada pelo futuro chefe em uma reportagem publicada na Folha de S. Paulo. Na época, ainda era caloura.

“A universidade tende a ficar mais aberta, uma política afirmativa demora décadas para fazer efeito e a abertura da USP era urgente”, conclui a jovem.

Senso comum acerca dos cursos

Circula um mito, no qual os cursos de exatas são para a elite e os estudantes que vêm de realidades menos favorecidas precisam optar por outras áreas. Esta visão de cursos elitistas está em plena mudança.

Bem como diz o diretor de Relações Profissionais do Crea-SP, Pedro Alves de Souza Júnior, que reconhece a importância de programas sociais de educação.

“É preciso reconhecer o papel que tiveram os governos que começaram com o Fies [programa de financiamento estudantil] e das cotas, para que esses benefícios não precisem ser eternos”, explica ele.

Pedro ressalta a evolução do percurso: “Já provamos que temos capacidade de ocupar as universidades, o primeiro passo para a caminhada dos cem quilômetros já foi dado.”

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