Executiva no comando da Levi’s; por que sua trajetória importa?
Um número pequeno de empresas da Fortune 500 são lideradas por mulheres, sendo este 46 delas. O quantitativo representa 9% das maiores empresas corporativas dos Estados Unidos por receita.
O cenário piora quando esses percentuais se tornam um recorde. As mulheres ainda devem atentar-se aos pequenos números, pois cada contratação e demissão é importante a fim de promover mudanças.
Novo comando da Levi’s
Em meados de novembro rumores abordavam que Michelle Gass deixaria o cargo de CEO da Kohl’s para se tornar CEO da Levi Strauss no início do próximo ano. Os observadores lamentaram o encolhimento de um grupo exclusivamente feminino.
A Levi’s atingiu sua receita anual de US$ 5,8 bilhões em 2021. A marca tem cerca de um terço do tamanho da Kohl’s. E embora tenha sua influência culturalmente importante, ela não entra para a Fortune 500.
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A quantidade de mulheres que estão nos cargos de gerência das empresas (CEOs), são um indicador para aferir sua permanência no local de trabalho. Quando os números sobem, representam progresso. Por outro lado, ao cair, mostra regresso.
Em casos específicos, como o em questão, o parâmetro simplifica uma narrativa mais complexa, pois a saída de Gass da Kohl’s não é má notícia. A Fortune 500 perde uma de suas CEOs mulher mais importantes, porém o quadro não se encerra assim.
Realidade da luta de mulheres CEOs
O próximo trabalho de Michelle reflete uma mudança realística de como mulheres que chegam ao topo não são bem interpretadas e avaliadas. Ao assumir o novo cargo de CEO, segue mostrando que tal conquista não é comum.
Pelo simples motivo da luta das mulheres que disputam os cargos executivos em empresas de alto perfil. A Spencer Stuart mostrou que, desde o ano de 2004, 22 homens conseguiram essa distinção entre as empresas do S&P 500.
Já o número de mulheres é igual a zero. Durante o período em questão, apenas três mulheres foram CEOs repetidas de uma empresa da Fortune 500: Meg Whitman (EBAY e Hewlett Packard); Susan Cameron (com dois cargos chefe na Reynolds American) e Mary Dillon (Ulta Beauty e Foot Locker).
A situação de Gass ainda é delicada. É quase inédito que uma mulher CEO, que vinha passando por problemas empresariais, conseguir outra chance de estar no topo.
Michelle vinha apostando no ramo com a parceria da Kohl’s com demais empresas, como Sephora e Amazon. Entretanto, suas ideias não deram lucro à varejista. Desta forma, ativistas exigiram sua demissão.
Supõe-se que Gass teria se aposentado diante do quadro, e com isso, tornou-se membro de algumas diretorias de outras empresas. Especula-se ainda que seja de uma empresa de capital de risco ou de private equity.
Ela teria “desaparecido”, bem como Jennifer Reingold escreveu na Fortune em 2016, quando falou o motivo de tantas mulheres executivas simplesmente desaparecerem do mundo corporativo.
O problema também é sistêmico, pois mulheres são nomeadas, em suma, para atuar em liderança de empresas que se encontram em dificuldades ou em momentos de crise.
Como o glass cliff se relaciona com o novo comando da Levi’s?
Reingold citou em seu artigo alguns dados da Universidade Estadual de Utah. Estes mostram que, até 2014, 42% das mulheres CEOs das empresas da Fortune 500 foram nomeadas em tempos de crise. O percentual é de 22% de homens CEOs.
O processo, chamado de “glass cliff” (em tradução: teto de vidro), consiste em colocar mulheres em situações que homens não querem fazer. O que se assimila do caso de Gass. Mulheres com dificuldades em seus cargos não possuem visão para futuras oportunidades.
Bem como explica Marianne Cooper, socióloga do Laboratório de Inovação de Liderança de Mulheres VMware da Universidade de Stanford: “Não há muita margem para o fracasso das mulheres CEOs.”
O reconhecimento da dificuldade do trabalho de Gass na Kohl’s se deu pelo atual CEO da Levi’s, Chip Bergh: “Cheguei à conclusão de que a Kohl’s está em um lugar melhor hoje do que se ela não tivesse passado pelo cargo.”
Em entrevista ao The Wall Street Journal, ele contou que o trabalho dela deveria ser considerado perante as dificuldades enfrentadas pelas lojas de departamento. Bergh reconheceu, ainda, publicamente o “glass cliff”.
O atual CEO da Levi’s também abordou que, o fato de ter conduzido a empresa por tempos tumultuados fez de Gass uma líder mais forte, não mais fraca. Ela irá ingressar na empresa em um cenário fora do comum.
Como será o novo comando de Gass na Levi’s?
Gass entra como presidente por até 18 meses antes de assumir o cargo de Bergh, quadro adverso para uma CEO que já exerce a profissão. Um porta-voz da empresa, em declaração à Bloomberg Opinion, explicou a decisão.
A justificativa é que eles terão “muito tempo para trabalharem juntos e mapear uma transição suave, ao mesmo tempo em que daria a Michelle a oportunidade de aprender nossos negócios e conhecer nossa equipe.”
Há duas interpretações para o exposto. Primeiramente, a diretoria da Levi’s ou até Bergh crêem que Gass necessita de mais orientação – o que, convenhamos, não aconteceria com um homem no mesmo cargo.
O outro lado da moeda pode mostrar que o processo de até 18 meses é uma tentativa de Bergh e da empresa de garantir que Gass não passe por mais uma situação de “glass cliff”.
Em qual das duas alternativas você aposta? Esperamos que Michelle tenha seu estrelato na Levi’s de forma pacífica, visando sempre seu sucesso como CEO.